Pesquisa com empresas globais aponta quatro latinos
entre os mais atrativos
Apesar da desconfiança do mercado financeiro internacional em relação à América Latina, quatro países da região continuam entre os mais atrativos do mundo
para os investidores.
Uma pesquisa realizada pela empresa norte-americana de consultoria A.T. Kearney junto a presidentes e executivos de 150 multinacionais (que juntas faturaram
US$ 2 trilhões no ano passado) informa que o Brasil é o segundo colocado no ranking dos mais atraentes. O México aparece em 7º lugar, a Argentina está em 11º e o Chile em 23º. Os EUA são os
preferidos, e a China vem depois do Brasil.
Os entrevistados dizem que a dimensão do mercado interno ainda é o fator mais importante para a escolha do local onde serão feitos
investimentos na indústria e nos serviços. O tamanho da classe média também é considerado fundamental.
Para Umang Soin, diretora do Global Business Policy Council, da A.T. Kearney,
o Brasil, que tem um mercado interno menor que o da China, leva vantagem por dois fatores básicos: em primeiro lugar, em razão das oportunidades de investimentos geradas pelas
privatizações; em segundo, pela mais antiga convivência do país com as regras do capitalismo.
A pesquisa foi realizada já no contexto da crise asiática (entre fevereiro e abril) e
Soin não crê que os efeitos da turbulência causada pela Rússia alterem a preferência dos investidores. "Quem investe na produção não pensa no curto prazo", diz Soin.
Mercado interno
torna países latinos opções mais confiáveis para o capital produtivo
O tamanho do mercado interno prossegue como fator mais importante para a determinação do local onde serão feitos
investimentos na indústria ou nos serviços. E, desse ponto de vista, a América Latina está bem colocada na preferência das empresas globais: o Brasil é o segundo mercado do mundo entre os
considerados mais atrativos por presidentes e executivos de 150 companhias internacionais, que, juntas, faturaram no ano passado US$ 2 trilhões. É o que informa pesquisa feita pela A.T.
Kearney, uma das maiores empresas de consultoria do mundo.
Na sondagem, o Brasil perde, como mercado mais atrativo, apenas para os Estados Unidos. O México aparece em 7º lugar, a
Argentina em 11º e o Chile em 23º, na relação dos países considerados mais atrativos ao investimento estrangeiro (veja tabela abaixo).
A China, cujo mercado interno é maior que o
brasileiro, ficou em terceiro lugar na pesquisa da consultoria. Isso se deveu a dois fatores, segundo a economista norte-americana Umang Soin, diretora da Global Business Policy Council, da
A.T. Kearney. Primeiro, as privatizações em andamento no Brasil tornavam o país mais atrativo como oportunidade de investimento. Em segundo lugar, o mercado brasileiro vive, há muito tempo
sob regras jurídicas e institucionais, características do capitalismo - o que não é o caso da China.
A pesquisa entre os executivos globais, foi feita entre fevereiro e abril deste
ano – já no contexto, portanto, da crise dos países asiáticos -, abrangendo corporações da América do Norte, Europa, Ásia, Oceania e América Latina. Nova sondagem começa neste mês. Soin,
porém, não crê que os efeitos da crise russa sobre os mercados emergentes no cenário atual afetem a preferência dos investidores estrangeiros por tais economias.
"Oitenta e três por
cento dos entrevistados disseram que o critério principal para alocar recursos é o mercado interno. Quem investe direto na produção não pensa no curto prazo, mas sim em até dez anos
adiante", justifica a economista. Por isso, ela julga que são pouco prováveis mudanças na alocação de recursos produtivos nos países latino-americanos incluídos entre os 25 prediletos em
abril - sobretudo, Brasil, México e Argentina.
Peso da classe média
O mercado interno brasileiro é de US$ 698 bilhões - equivalentes ao PIB do país em 1997, menos seu
comércio externo. O norte-americano é dez vezes maior - US$ 7,1 trilhões. Tamanho e ritmo de crescimento, sobretudo da rica classe média, são o foco dos investidores estrangeiros que alocam
recursos na produção dos Estados Unidos, diz Soin. Em economias emergentes, como o Brasil e o México, o tamanho diz muito, mas é o fôlego do mercado consumidor quem diz mais.
Assim,
ainda que o Brasil, depois do efeito-vodka, cresça apenas 1% neste ano, como apontam algumas estimativas revistas no final de agosto, o que pesa é o avanço do consumo da classe média nos
últimos anos.
E a despeito de atrativos, como a privatização de telecomunicações, serem, a esta altura, fato superado, o que atrai no país é a perspectiva de produzir e vender bens
de consumo. Por que? "Por conta, ainda, dos efeitos estabilizadores do Plano Real sobre o mercado interno", diz Soin, de seu escritório em Chicago, nos EUA, onde trabalha.
"O
interesse pelo México indica que o Nafta já alcança padrões efetivos de investimento regional", afirma. Os parceiros escolhem investir um no outro.
Mas há detalhes instigantes:
indagados, os executivos norte-americanos mais freqüentemente preferiam por dinheiro no Brasil que no México. Já os canadenses, depois dos Estados Unidos, optam por investimentos no México
- só depois, no Brasil. Quanto aos mexicanos, escolheram, pela ordem, América Central, Estados Unidos e Canadá.
Redirecionamento
Batizada de Índice de Confiança do
Investimento Estrangeiro Direto, a sondagem estreou neste ano. Atestou que os investidores redirecionavam suas simpatias dos emergentes asiáticos para os latino-americanos. O Mercosul, suas
200 milhões de pessoas e US$ 1 trilhão de PIB, era o foco de 70% das escolhas. O Brasil era porta de entrada para investir nos setores primários, serviços públicos e em indústria pesada e
de telecomunicações. Os europeus optavam por fazer bens de consumo na Argentina.
Subsidiárias ou "joint venture" são o melhor meio de investir, apontou a pesquisa. E, para rever
metas de investimento, a análise de oportunidade de cada um dos projetos é o que pesa - muito menos, influem decisões de caráter macroeconômico. Quanto ao poder de sedução dos incentivos
fiscais, o resultado supreenderia, anos atrás, a muito governante latino-americano: só 10% dos investidores globais julgavam-nos decisivos para o destino dos recursos.
Líderes de
preferência, Estados Unidos, Brasil, China, Índia e México abrigam metade da população mundial. Não à toa portanto, os quatro últimos integram o rol emergente, que em 1997 absorveu US$ 120
bilhões dos US$ 250 bilhões estrangeiros investidos no mundo.
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/09/1998Por: Maria Helena Passos, São Paulo
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