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Crise Internacional Pode Favorecer o Brasil |
País deve receber parte dos investimentos antes previstos para outros mercados
emergentes
A turbulência no mercado financeiro internacional que assola mercados emergentes como China e Rússia não oferecem riscos para os investimentos de longo prazo em curso no
Brasil. Ao contrário, há expectativa de que o País possa até vir a ser beneficiado pelo deslocamento de investidores em busca de oportunidades seguras em projetos de infra-estrutura, diz o
presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Base (Abdib), José Augusto Marques.
Segundo a Abdib, a conjuntura internacional deve dificultar a obtenção de recursos para
financiar os projetos chineses e russos, ao contrário dos brasileiros. Levantamento feito pela Abdib em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) indica que existem
atualmente no País 1.099 projetos em curso ou projetados para serem executados até 2003. O investimento total confirmado em infra-estrutura é de US$214,9 bilhões. Já estão em andamento 370
projetos no valor total de US$ 60,765 bilhões. Outros 729 projetos estão confirmados e totalizam investimentos de US$ 154,168 bilhões.
Os investimentos em infra-estrutura ocorrem em
setores estratégicos para a economia do País, como na geração e transmissão de energia, expansão dos serviços em telecomunicações, transportes e diversos outros. Boa parte deles tornou-se
viável com as privatizações e planos de concessão, que estão permitindo ao País recuperar o que deixou de ser feito nos anos 80.
O processo de retomada de investimentos faz parte de
uma reforma profunda que implica a mudança do conceito do papel do Estado na economia. O processo mexe com aspectos culturais do País, ao transferir para a iniciativa privada serviços como
o fornecimento de eletricidade e telefonia, e deve demorar vários anos até ser completado, segundo Augusto Marques. "Existe demanda reprimida em todos os setores básicos, como saneamento,
telecomunicações, energia e transportes", afirma o presidente da Abdib.
A retomada no setor de telecomunicações é considerada uma das mais importantes, já que será a primeira área
em que o consumidor vai poder sentir diretamente os efeitos do fim do monopólio estatal e da instauração de um mercado competitivo entre grupos privados. Nas privatizações dos setores
siderúrgico, ferrovias, portos e estradas o impacto do ponto de vista do consumidor não é tão grande. "Existe a cultura do bem disponível em serviços tradicionalmente estatais, como o
fornecimento de água e eletricidade e transporte eletrificado, mas estamos no limite e começa a haver risco de escassez", afirma Marques.
No setor de transportes, o levantamento da
Abdib indica que o segmento portuário foi o que mais cresceu na perspectiva de novos investimentos. No ano passado havia um total de US$2,6 bilhões de projetos previstos ou em andamento.
Atualmente já existem US$ 3,6 bilhões de investimentos confirmados até 2003. Os números ainda são considerados insuficientes para as necessidades do mercado brasileiro. Só na Grande São
Paulo existem estimativas de que existe uma carência de 5 milhões de viagens por dia no transporte urbano eletrificado (trens e metrô). Segundo a Secretaria de Negócios Metropolitanos do
Estado de São Paulo, cerca de 1 milhão de pessoas vão e voltam do trabalho a pé, diariamente, por falta de transporte eficiente. O País registrou uma explosão no número de lotações nos
últimos anos. O transporte informal cresceu tanto que já escapa ao controle das autoridades e ameaça a receita de companhias de transporte público.
Em outros segmentos a situação
também é considerada muito precária, em decorrência da falta de recursos públicos para investimentos nas últimas duas décadas. No setor de petróleo e derivados, o crescimento da demanda
varia de 5% a 6% ao ano. O mesmo ocorre na área de energia, em que o País tem enfrentado situações de blecautes e racionamentos nos últimos anos.
RECUPERAÇÃO COMEÇOU COM LEI DAS
CONCESSÕES
A recuperação dos investimentos em infra-estrutura decorre de um processo lento que se arrastou por vários anos no Congresso Nacional. "Tudo isso que está acontecendo
hoje no País só foi possível graças à lei das concessões de serviços públicos, que ficou quatro anos tramitando no Congresso e só saiu em 95", afirma o presidente da Abdib, José Augusto
Marques. A lei das concessões foi apresentada ao Congresso pelo então senador Fernando Henrique Cardoso.
O primeiro texto foi escrito em 1986, pelo deputado Saulo Queiroz (PFL-MS),
mas o projeto não tramitou porque o Congresso estava começando a discutir a Assembléia Nacional Constituinte. A nova lei redigida por Fernando Henrique foi apresentada em 1990. Foi
modificada pela Câmara e voltou ao Senado. Um dos primeiros atos do presidente em exercício foi sancionar a nova Lei em fevereiro de 95.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 17/08/1998Por: Cley Scholz
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