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País Cai no Ranking da Competitividade Mundial |
Brasil vai da 33ª para a 37ª posição por causa do desaquecimento
econômico trazido pela crise asiática
Ao tentar esfriar a economia e responder com a brutal elevação dos juros para conter os efeitos da crise asiática, o Brasil perdeu competitividade
no ranking mundial. O país caiu da 33ª para a 37ª posição entre as 46 nações que tem papel-chave na economia do planeta, segundo estudo do Institute for Management Development, com sede em
Lausanne, na Suíça. Os Estados Unidos continuam na liderança, pelo quinto ano consecutivo.
A classificação do IMD avalia a capacidade que os países possuem de ampliar a
competitividade de suas empresas por meio de entrevistas de 4.314 executivos e estatísticas coletadas por 29 instituições - no Brasil, a fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte. O resultado
final é uma ponderação obtida pela radiografia de oito setores: infra-estrutura, ciência e tecnologia, gerenciamento, finanças, grau de internacionalização, governo, economia doméstica e
povo (o que inclui desemprego, sistema educacional, qualidade de vida e violência).
Entre seus parceiros latino-americanos, o Brasil continua tomando uma surra do Chile que está no
26º lugar (caiu duas posições). Os chilenos mantêm-se na liderança da competitividade no continente, segundo o relatório do IMD, por causa de "um forte programa de desregulamentação e
privatização da economia, que incluiu seu sistema previdenciário". A Argentina, que figura em 31º lugar (era o 28º em 97), na avaliação do IMD, "continua a lutar contra um alto desemprego
(13%) e com uma reforma no seu sistema tributário mais penosa do que o esperado".
O México, que com a Itália, a Hungria e a Grécia forma o batalhão que ultrapassou o Brasil na
classificação, recuperou-se da crise e deve agora "beneficiar-se da força das economias americana e canadense", segundo o estudo. O recuo do Brasil pode ser explicado basicamente pelo
desaquecimento de sua economia.
O item economia doméstica foi o que mais pesou. Ele inclui os resultados de sua balança comercial, taxa de câmbio, protecionismo e grau de abertura -
pontos vulneráveis e polêmicos dentro do próprio País. Perdeu outros em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto e nível de poupança interna. Por isso o Brasil desabou da 25ª posição
para a 39ª nesse quesito. Ganha apenas da África do Sul, Polônia, Hungria, República Checa, Colômbia e Venezuela.
A pesquisa do IMD rebaixou também a classificação do País em
relação ao item governo, que considera sua eficiência, contas públicas, política fiscal, Justiça e segurança. Ele estava no 16º lugar no ano passado, agora está no 21º. Apesar dos
investimentos em infra-estrutura, que se intensificaram, o IMD mostrou que, comparativamente, o País está na 42ª posição, à frente apenas da Colômbia, das Filipinas e da Rússia.
Como avaliação indireta do Plano Real e da ação do governo de Fernando Henrique Cardoso, o IMD aponta que a economia brasileira hoje caminha melhor - era a penúltima no ranking de 1994,
com Itamar Franco, pulou para a 25ª posição em 97 e sofreu forte piora em 98. Os ganhos foram progressivos, em todos os anos, de 94 a 98, no que se refere à internacionalização. Quanto ao
governo, deu um salto com a gestão de FHC, mas piorou razoavelmente em 98, principalmente graças à elevação dos gastos e do déficit públicos.
Há dois resultados opostos e também
constantes. De 94 para cá a infra-estrutura deteriorou-se ainda mais e está entre as piores do mundo. No caminho inverso, progrediu o gerenciamento, que engloba a produtividade, custos do
trabalho, eficiência das empresas etc., no qual o Brasil se encontra hoje no 29º lugar. Em 94, estava na 39ª posição.
Por último, após a melhoria inicial com a troca de governo e o
Plano Real, seguida de estagnação, está a ciência e tecnologia, em que o Brasil ocupa a 36ª posição.
DESEMPENHO DOS ESTADOS UNIDOS É EXCEPCIONAL
Sete anos de contínua
expansão e o menor desemprego em 24 anos colocam país na liderança
Estados Unidos, Cingapura e Hong Kong continuam sendo os competidores mais poderosos do mundo. A supremacia
americana está apoiada, segundo o estudo do IMD, na mais sólida economia entre as 46 avaliadas, no mais eficiente e confiável sistema financeiro do mundo, na dianteira científica e
tecnológica e escorada na melhor infra-estrutura de todas.
"Está tudo no lugar para a competitividade dos EUA: sete anos de contínua expansão econômica (o terceiro maior período de
expansão no século), o desemprego mais baixo em 24 anos, inflação menor em 30 anos e índices de valorização das ações três vezes superior ao de 91", nota Stephane Garelli, do IMD. O estudo
aponta os efeitos benéficos da privatização, da desregulamentação, da flexibilidade no mercado de trabalho e dos investimentos maciços em novas tecnologias. "Só um grande crash no mercado
acionário ou, no longo prazo, a complacência, podem ameaçar uma situação historicamente excepcional."
Em relação a seus adversários europeus, os EUA também levam hoje considerável
vantagem no custo de sua mão-de-obra - US$ 17,7 a hora - ante os US$ 26,4 da Alemanha. Além disso, "Europa do Leste e América Latina continuam a oferecer aos Estados Unidos e Europa uma
reserva de trabalho abundante e barata - entre US$ 1 e US$ 3 a hora - próxima de seus mercados domésticos e usada nas atividades industriais", comenta Garelli.
Cingapura, a segunda
colocada, lidera todas as demais nações na eficiência de seu governo - pequeno déficit público, política fiscal adequada - e, entre outros aspectos, na formação educacional de sua mão-de-
obra. Não é certo que continue assim. "O país foi menos afetado que seus vizinhos pela crise asiática, mas certamente sofrerá o impacto da desaceleração dessas economias", revela o estudo.
Hong Kong manteve seu terceiro lugar, embora tenha perdido espaço comparativamente a Cingapura, o que Garelli atribui "às incertezas da transição" para o domínio chinês.
O quarto
lugar no ranking da competitividade é uma surpresa: a Holanda. "Seu robusto crescimento (talvez aquecimento), desemprego cadente, e ações inovadoras, como o trabalho de meio período, fazem
dela o primeiro exemplo bem sucedido, fora da esfera anglo-saxônica, de um país que fez reformas drásticas para ampliar seu poder de competição", conclui o IMD.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 22/04/1998Por: José Roberto Campos
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